quinta-feira, 5 de junho de 2008

Síndromes curiosas

Há alguns anos, li no blog da Paulinha um interessante texto sobre o que ela chamou de Síndrome Nacional do "Menos Pior". Talvez seja a aproximação de uma nova eleição, ou o pressentimento de um novo desastre eleitoral, ou simplesmente um desejo irriquieto do meu gúliver, não sei, mas deu vontade de escrever sobre síndromes curiosas que acometem o ser humano e, em particular, os brasileiros.

  • Síndrome do segundo lugar

A melhor hora para se evidenciar essa síndrome é durante a apuração do desfile das escolas de samba.
Escola de samba é que nem time de futebol: tem torcida. Mas nem todo mundo torce para alguma escola em especial... Assim, quando a apuração vai ao ar na Quarta-Feira de Cinzas, um monte de gente liga casualmente a TV e desencadeia aquilo que chamo de síndrome do segundo lugar. Na indiferença sobre qual escola deve ganhar o carnaval, parece que tendemos a criar um enredo próprio para a apuração. A história do evento passa a ser mais importante que seu resultado. Queremos que ela seja a mais emocionante possível. E quem não se empolga diante da possibilidade de uma virada na classificação? Isso nos leva a "torcer" pela escola que, naquele momento, está em segundo lugar. É só pelo prazer de ver uma reviravolta, choro e ranger de dentes naqueles rostos que ainda há pouco cantavam vitória. Afinal de contas, pimenta, nos olhos dos outros, é colírio! Não se cria nenhuma simpatia pela escola "escolhida" e nem se dará alguma importância ao resultado depois, não importando qual seja.
Também é possível perceber tal síndrome em corridas de Fórmula 1 e praticamente qualquer outra disputa insossa que passe na TV em sábados, domingos e feriados.


  • Síndrome da festa infantil
É a síndrome que acomete a política brasileira. No Brasil, há três tipos de políticos: os que gostam de pizza, os que gostam de bolo e os que gostam de refrigerante. A associação é, respectivamente: governistas, oposição e resto. O curioso é que embora as pessoas e os partidos variem com o tempo, as posturas não. A oposição sempre vai fazer mil denúncias sobre pessoas ligadas ao governo, criando um "bolo" - curioso como é difícil ver o contrário... O governo, por sua vez, sempre vai querer defender sua própria imagem e levar o caso para a famosa "pizza". Nesse bolo, sempre há uma tendência ao exagero no fermento, com a instauração de CPIs e convocações de ministros da base governista. Se alguém cair, é vitória. E no meio dessa história, há aqueles que nunca são governistas e estão sempre dispostos a criar alguma efervecência em nome da ética: a turma do "refrigerante", que, hoje em dia, tem sua representação mais expressiva no PSOL. Sim, isso foi uma ironia: tanto governo quanto oposição desprezam a turma do refri. A criança mesmo não é importante - só a festa. E neste país em que se trabalha duro para que nada seja feito, reina uma democracia gorda, preguiçosa e desajeitada.


  • Síndrome do Salmo 91
Essa vale só para o Presidente da República e só quando a Globo gosta do sujeito: "mil cairão a tua esquerda e dez mil a tua direita, mas tu não serás atingido". Curioso é que a proporção é mais ou menos essa mesma... Lula tem demonstrado bem isso: divide um "mar vermelho" e é mais atingido nas peladinhas na Granja do Torto que na cena política.


Por hora, é isso. Se alguém souber ou detectar mais alguma síndrome curiosa, por favor, me comunique!