quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Riddikulus!

*: espero, com este texto, desrespeitar apenas as novas regras gramaticais da Língua Portuguesa.

Escrevo este texto para as pessoas de Juiz de Fora (e aquelas que a vêem como sua casa) que, por uma ou outra razão, não tiveram oportunidade de acompanhar o 1º turno das eleições municipais.

Alguns textos atrás, previ um desastre eleitoral. Felizmente, errei. Contudo, não tão fortemente quanto gostaria. Mas até que isso teve suas compensações tragicômicas...

Depois da saudosa Operação Pasárgada (mais uma operação devastadora e de nome maneiro da Polícia Federal) o não-saudoso ex-prefeito ex-radialista sempre-polêmico Alberto Bejani acabou renunciando e - convenientemente - abrindo mão de concorrer ao cargo de prefeito dessa querida cidade. Isso foi o que aconteceu de melhor.

Mas embora Bejani - famoso por suas campanhas risíveis e incrivelmente bem-sucedidas - não tenha participado do processo, o eleitor juizdeforano não ficou desamparado no quesito "risadas". Entre os candidatos a vereador, tivemos gente quase-literalmente chorando a não-aprovação no "vestibular eleitoral" de quatro anos atrás ("Me ajude! Me ajude! Me ajude!" - detalhe: dessa vez, FOI ELEITO!), sambinhas ("Agora é... Mamão... quinze-meia-dois-zero, o candidato que eu quero... um amigo de bom coração"), "visões celestiais", "uhuhuh", sacudidas na cidade e outras piadas. Mas não consigo ver nada que encarne melhor o espírito tragicômico do processo eleitoral no Brasil que a propaganda do candidato Luiz Carlos Hort Frut. Único candidato de seu partido, mal se dava ao trabalho de falar sobre as suas propostas - usava o tempo para falar do programa de governo do candidato a prefeito que estava apoiando. Tudo bem que quase todo partido pede para o candidato a vereador, no final de sua fala, pedir um voto para o candidato a prefeito da coligação. Mas esse caso foi bizarro. Ficou entre o puxa-saquismo e a inocência. Por quê? Porque o candidato a prefeito em questão foi aquele que praticamente substituiu Bejani na questão da campanha risível com propostas absurdas: Omar Peres. "Sou pobre mas não sou burro! Só trabalho com o que faz bem para a saúde: verduras, frutas... E na câmara não serei diferente. Estarei junto com Omar..." etc.

Acho que agora, passada a eleição, podemos dizer com convicção que a aventura política do dono da TV Panorama acabou. Ou pelo menos deveria acabar - no lugar dele, eu é que não me candidataria novamente. Embora Omar tenha acabado sendo punido por tentar difamar a imagem de outro candidato, seu maior crime foi outro: tentar repetir na "microestrutura" juizdeforana o que Silvio Berlusconi fez na "macroestrutura" italiana, ou seja, eleger-se. Seu castigo foi se tornar motivo de riso para a cidade inteira. Para quem não teve a oportunidade de estar em JF para tomar contato com as propostas "salomônicas" de Omar, enumero algumas. A primeira foi o Cartão Saúde. De maneira geral, parece que o tal cartão funcionaria como qualquer cartão de plano de saúde por aí. Com o detalhe de que as consultas e exames seriam pagos pela Prefeitura... De onde viria o dinheiro, ninguém sabe. Mais que isso: na necessidade de algum medicamento, haveria um convênio entre Prefeitura e Correios para que os mesmos fôssem entregues nas residências dos pacientes. Ainda na área de saúde, ele prometeu o Hospital da Zona Norte. Mas isso é até lugar-comum, pois todos os candidatos fizeram essa promessa - possivelmente, cada um tentando polarizar os votos de uns 25% do eleitorado. E a última promessa realmente "de vulto" feita por Omar foi o trem de superfície. A idéia parecia simples: voltar com o Xangai. "Só que mais moderno", como ele dizia logo antes de entrar a animação tosca de um trem-bala passando em frente ao Parque Halfeld. Juro que nem em meus sonhos mais absurdos isso já havia passado pela minha cabeça! A imagem era tão inusitada que, penso, se Salvador Dalí morasse em JF, ficaria com inveja! Para completar, após essa promessa, Omar disse que, enquanto o trem de superfície não se tornasse uma realidade, a MRS Logística (empresa proprietária da malha ferroviária que passa por Juiz de Fora) teria de compensar a cidade pelos transtornos causados por seus trens. E que isso seria feito cobrando pedágio de cada vagão que cruzasse a cidade. Com esse dinheiro, construiria casas populares - melhor teria sido dizer que financiaria o Cartão Saúde, mas isso é o de menos. Sinceramente, não sei quem Omar quis enganar com a história do pedágio do trem. É óbvio que a malha ferroviária não pertence ao município. Como ele pode querer cobrar pelo uso de algo que não lhe diz respeito? Se Omar alguma vez teve alguma chance nesse pleito, perdeu depois dessa proposta.

Que o trem é um transtorno, isso é verdade. Qualquer um que tem de passar pela rua Benjamim Constant por volta de uma da tarde sabe disso - tão bem quanto aqueles que passam pelo Mariano Procópio à uma e quinze. Proposta interessante para isso veio de Custódio: construir mergulhões e viadutos. Seria uma solução quase tão "salomônica" quanto as de Omar se não fosse pelo fato de Aécio Neves ter aparecido em pessoa na cidade (no alto de um palanque tucano) para dizer que há 43 milhões de reais prontinhos para serem investidos nessas obras - recursos do Governo Estadual. Pessoalmente, acho a notícia ótima! Não me consta que Custódio, como deputado federal, já tenha conseguido verba tão vultosa assim de uma vez. Mas como candidato a prefeito, tem feito um uso desta proposta que não vejo com bons olhos. A todo momento apelando para o fato de que Aécio é seu companheiro de partido, fala do dinheiro como um grande cheque-caução. Isso é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que escapa da inocência de Omar (mostrando a origem dos fundos), passa a impressão de que existe uma panelinha: o dinheiro existe, mas só virá para Juiz de Fora se Custódio vencer a eleição... Que cada um dê o nome que preferir a essa prática!

Tarcísio Delgado deu claros sinais de cansaço ao fazer uma campanha excessivamente emocional. "Eu amo Juiz de Fora" e afins. Além disso, cometeu um erro gravíssimo: pôs em dúvida a capacidade de "novatos" governarem uma cidade como Juiz de Fora. Foi como comer uma banana, jogar a casca no chão e pisar em cima. Tarcísio não esqueceu que um dia também já foi um "novato" como prefeito - embora tenha cuidadosamente omitido que, naquela época, Margarida Salomão fazia parte de sua equipe de governo. O erro maior de Tarcísio foi levar o tema para o debate final, na TV Panorama. Lá, na primeira rodada de temas livres, perguntou a Custódio o que ele achava do "reducionismo" que tinha roubado a cena na campanha. Evidentemente, Tarcísio tinha em mira os slogans de Margarida ("a fila tem que andar"), Omar ("chega de ex, agora é 43") e Rafael Pimenta ("pimenta neles"). Custódio se juntou a Tarcísio como se fizessem parte de uma sociedade secreta. Na réplica, Tarcísio disse que nunca ninguém conseguiu levantar qualquer motivo realmente forte para que ele não voltasse a ser prefeito, que os adversários diziam que ele não podia ser prefeito "porque já tinha sido prefeito" - o que era, como ele mesmo disse, uma atitude "irracional". Na rodada de tema livre seguinte, Margarida fez uma pergunta extremamente capciosa a Omar: perguntou-lhe se a experiência de empresário o credenciaria para ser prefeito. Omar, é claro, disse que "sim" (quase agradeceu a pergunta!) e desfraldou boa parte de seus feitos passados. Margarida, então, concluiu que "toda experiência é válida" e que "tão irracional quanto dizer que alguém não pode ser prefeito por já ter sido prefeito, é dizer que alguém não pode ser prefeito por nunca ter sido prefeito antes". Tarcísio segurou lágrimas de sangue durante o resto do debate. Acabou derrotado nas urnas. No segundo turno, seu filho, Júlio Delgado, conhecido desafeto do PT de Margarida, apoiou Custódio. O PMDB, no entanto, apoiou Margarida. Tarcísio, na última semana de campanha, seguiu o partido e declarou apoio a Margarida - retirou-se da política de forma elegante, afinal.

Rafael Pimenta (do PCB) fez uma campanha discreta. Fez muito menos vista que Victor Pontes, candidato do PSTU. Este, do alto de seus 21 anos de idade, mostrou um talento nato com palavras. Não foram poucas as pessoas que me disseram que apenas não votaram nele por causa do partido - o que certamente é um perigo, sendo ele um sujeito tão jovem.

Segundo turno: Margarida e Custódio. Lula - até então se mantendo afastado por seu enorme respeito a Tarcísio - entra na campanha de Margarida. A opinião das pessoas com quem tenho conversado sobre o assunto é de que Custódio tem baixado muito o nível da campanha. Eu digo, então, que ele se tornou um "bicho papão". E contra "bichos papões", façamos como o Harry Potter: na cara dele, digamos riddikulus!