segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Dura lex, sed lex

"Quem quer casar com a Dona Baratinha,
que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?"

Em tempos de 13º salário, compras de Natal e crise econômica mundial, achei que cabia um texto sobre economia. Mas coisa simples.

Toda a Matemática que se precisa saber para lidar com bancos é: juros. Ou seja, porcentagem. Juro é o dinheiro que se cobra para emprestar dinheiro. Isso quer dizer, basicamente, que se você emprestar dinheiro a alguém à juros, receberá de volta todo o dinheiro emprestado mais os juros. Enfim, uma das lições mais importantes na vida é quando a mãe fala para o filho lavar as mãos toda vez que pega em dinheiro, pois este circula na mão de muita gente. Sim, dinheiro é coisa que troca de mão com enorme facilidade. Os juros são os responsáveis pela acumulação.

Se não houvesse juros - mas todo mundo pagasse as dívidas -, o sistema seria filantrópico. Mas como banco não é instituição de caridade, a tendência é fazer o fluxo de dinheiro sair dos correntistas para o banco. Para tanto, o que se faz é oferecer uma melhor segurança para guardar o dinheiro das pessoas comuns. Sim, isso é bom. Mesmo se levando em conta o fato de que agora a posse do dinheiro é do banco e ele não só pode como vai usá-lo em suas próprias operações, deixar dinheiro no banco vale a pena. Mas se você deixar o dinheiro na conta corrente, é virtualmente como deixá-lo embaixo do colchão - com a diferença que você ainda paga as despesas de manutenção da conta. Uma opção é deixá-lo na poupança. É claro que, para isso, você precisa ter um excedente - poupança é aquele dinheiro no qual você não vai ficar mexendo toda hora. Isso é porque, no fundo, são as contas poupança que garantem liquidez aos bancos, são o que atestam que eles têm dinheiro. Em outras palavras, deixar dinheiro na poupança é como emprestá-lo ao banco. Por isso, o banco te paga juros sobre ele. Funciona sempre assim: quem empresta o dinheiro, recebe os juros.

E assim, esse texto fica muito simples. Tudo o que se precisa fazer é analisar quem está emprestando o dinheiro e qual é a taxa de juros. Na poupança, você empresta o dinheiro. No cheque especial, você é que pega o empréstimo. Por isso, a primeira dica é: fuja do cheque especial. Não é só pelo fato de ter juros, mas principalmente porque a taxa de juros dele é sempre muito alta - algo em torno de 8% ao mês, se não me engano. Parece-me que existem pouquíssimos cenários em que compensa pegar dinheiro do cheque especial. Todos eles obviamente ligados a investimentos com rentabilidade maior que a taxa de juros do cheque especial - enfim, coisas que não fazem parte do cotidiano de um correntista comum. No entanto, discutirei brevemente um desses cenários no próximo parágrafo: as ações. Por enquanto, basta saber que o cheque especial deve ser encarado como terreno proibido: o valor R$0,00 da conta corrente pode ser comparado a uma cerca eletrificada - com areia movediça do outro lado.

Ultimamente, o mercado de ações não tem atraído muito os investidores por causa da crise econômica mundial. Porém, antes disso, certamente era uma maravilha pensar que, comprando ações que se valorizem com o tempo, se conseguiria mais dinheiro do que se tivesse investido o mesmo valor na caderneta de poupança. A diferença é o risco. A poupança é uma tartaruga, mas é garantida pelo governo. As ações são lebres que podem "se cansar", desvalorizar. O interessante nesse mercado é comprar ações a baixo custo e vendê-las a alto preço: o famoso "comprar na baixa e vender na alta". Ou então, comprar ações e "esquecer" que as comprou para receber dividendos por ocasião do balanço, fazendo assim uma caderneta de ações. Tudo depende do seu estilo. Particularmente, não por conta da atual crise, acho Bolsa de Valores uma coisa perigosa para a saúde. Toma tempo ficar investigando que ações estão subindo ou caindo e tomar decisões de compra e venda. E a susceptibilidade a crises pode levar a desesperos que não acontecem na poupança - a não ser que a economia do país comece a caminhar tão mal que, de repente, a Miriam Leitão comece a falar a palavra confisco.

Outra fonte muito comum de sumiço de dinheiro é o cartão de crédito. Embora, como explicado, seja fato que deve-se "gastar dinheiro para fazer dinheiro", o cartão de crédito pode vir a ser um risco. Porque crédito é um dinheiro que você ainda não tem, que ainda não é seu. Logo, você deve pagar por ele. E assim, todo mês aparece a pior coisa relacionada ao cartão de crédito: a fatura. É nela que surge a tentação: a cobrança mínima. Porque imagine que você está com dificuldades para pagar a fatura do cartão: não é tentador poder pagar apenas 10% do valor total e já impedir que seu nome vá parar no SPC e/ou Serasa? A princípio, sim. O problema é que o serviço não é filantrópico. Assim, deixar de pagar alguma coisa equivale a pedir emprestado exatamente aquela quantia. Essa quantia fica acumulada para o mês seguinte e lhe serão acrescidos juros. Ou seja: quanto menos você pagar da fatura do cartão neste mês, mais dinheiro perderá no mês seguinte. Via de regra, os juros do cartão de crédito nunca são tais que se torne interessante encará-los. Portanto, é importante ter dinheiro para quitar a fatura. Por isso, é conveniente que você escolha o dia do vencimento da fatura de forma que este seja próximo ao dia do seu pagamento - dia 9 é um ótimo dia. Só não digo que é aconselhável deixar a fatura em débito automático porque sempre há o risco de, com isso, entrar no cheque especial - e isso seria trocar um problema por outro. Porém, aí é uma situação que vale a pena analisar: qual dos dois tem a taxa de juros mais baixa? Se não há como fugir da dívida, ao menos deva somente a quem cobra a menor taxa de juros. Neste caso, segundo me informou uma amiga que estava estudando o assunto, sai mais em conta dever ao cheque especial - me parece que a taxa de juros mais baixa em cartão de crédito é de 14% ao mês.

Por fim, gostaria de, rapidamente, enunciar três "leis" que resumem tudo que falei aqui, que são um guia para quem deseja levar uma vida tranquila no tocante a dinheiro. Como diz meu orientador, "As Três Leis de Carlinhos" (o ex-orientador dele se chama Carlos Eduardo):

1ª lei: escolha bem com quem você vai se casar. Não precisa ser pessoa rica, mas alguém que também tem vontade de crescer, alguém que também queira trabalhar. Essa é a "lei" mais importante. Pois mais importante que trilhar o caminho é escolher quem vai te acompanhar nesse caminho.

2ª lei: tem que sobrar dinheiro no final do mês; não mês no final do dinheiro. Resumo da economia doméstica. Como fazer isso pode ser um desafio maior ou menor dependendo da personalidade de cada um. Mas, em geral, um bom jeito de ter controle sobre as contas é definir as prioridades. Tudo aquilo que puder se reverter em lucro para você, não é gasto; é investimento. Gasto mesmo é aquele dinheiro que você nunca vai conseguir recuperar. Aluguel, por exemplo, é investimento: se você não tem onde morar, vai ficar difícil conseguir um monte de coisas... Cursos de línguas (principalmente inglês, que já está absolutamente fundamental) e plano de saúde também. Se você não investe nessas coisas, um monte de portas te são fechadas. Todo tipo de diversão é, em essência, um gasto. Logo, só comece a gastar dinheiro depois que tiver cuidado de todos os investimentos. Em tempo: nenhum país do G8 fala espanhol, logo não invente um curso de espanhol "porque é fácil". Só faça se houver a possibilidade gritante de se mudar para a Espanha, porque se não for para lá, é preferível fazer francês, italiano ou alemão e tentar alguma coisa em algum outro país da Europa. Mandarim também é muito bacana, a China vai dominar o mundo, mas você não vai para lá - a lotação daquele país já está esgotada.

3ª lei: tente guardar 20% de tudo o que você ganha. Dá até para colocar isso como um dos investimentos acima. Independente de você ter uma caderneta de ações, aplique esses 20% num fundo de baixo risco, como a poupança. Garanta moradia, alimentação e educação, depois esses 20%. Aí gaste. Diversão também deve fazer parte da vida - cheque especial é que não.

Em adição a essas "leis", podemos falar algo sobre "o sonho da casa própria". Como dito, moradia é fundamental. Logo, é natural pensar que a casa própria é melhor que aluguel. Nem sempre. É bem verdade que uma hora a casa própria se paga pelos aluguéis que você deixou de precisar pagar. Mas até lá, o caminho é longo. De fato, a casa própria só vem depois do cumprimento das "Três Leis de Carlinhos". É muito comum precisar de um financiamento para a compra da casa própria. Nessa hora, compare o IGP-M (controla o reajuste dos aluguéis) com a taxa de juros do empréstimo. Se a taxa de juros do financiamento for menor que o IGP-M (inclusive o previsto para o prazo de pagamento), vale a pena. Nessa situação, é como se você pagasse aluguel para você mesmo. De toda forma, procure reduzir ao máximo o valor do financiamento: é a hora de empregar a poupança...

Não faça "economia de palito". Não vale a pena ficar economizando em coisas pequenas e perder rios de dinheiro na hora de comprar um carro ou uma casa.