sábado, 7 de fevereiro de 2009

Educação Má

Não fiz Licenciatura em Química apenas como salvaguarda para o caso de não conseguir algo interessante com o Bacharelado - coisa que muita gente fez. Porque desde o dia em que Fábio e Márcio me flagraram com um giz na mão "dando aula" em uma das salas do ICE (isso em dezembro de 2002, pouco antes do recesso/férias, eu estava estudando com colegas da turma de Laboratório de Inorgânica I), comecei a cogitar a possibilidade de exercer aquele ofício profissionalmente. Nunca tive, é verdade, a intenção de dar aulas para Ensino Médio, nunca tive paciência com bebês, crianças e adolescentes. No entanto, sempre considerei a falta de didática de vários professores do curso de Química da UFJF um dos pontos chave para a explicação do desempenho dos alunos nas avaliações das diversas disciplinas - e por fim, no ENADE. Por isso, para ser um professor melhor que aqueles com quem tive contato, decidi mergulhar de cabeça nas disciplinas da Licenciatura - foi uma decepção. Na teoria, o behaviorismo é horrível; na prática, é, talvez, o único que funciona! Em tempo: no Brasil.

Sempre me perguntei por que uma teoria tão batida, tão criticada, ainda era amplamente aplicada nas salas de aula brasileiras. A resposta era aquela que explica porque as coisas duram: "porque funciona". Mas... por que funciona? Numa sociedade consciente, uma abordagem puramente comportamental, que coloca alunos em posição semelhante a ratinhos que aceitam levar choques em troca de comida, deveria gerar grande indignação, repúdio - vide o clipe de "The Happiest Days Of Our Lives+Another Brick In The Wall - Part II" e/ou Laranja Mecânica. Tudo, menos funcionar!

A razão de funcionar é porque o Brasil sofre, desde sempre, de um enorme problema educacional. Não, o problema não está só nas escolas! Ele vem de dentro das casas, da educação que os pais dão aos filhos, da educação que a sociedade dá a seus membros. Funciona porque aprendemos desde cedo que a casca é mais importante que a polpa, que o comportamento é mais importante que o ser em si. Não é só um problema de má educação, mas de educação má, que valoriza o errado, o mal, o mau. Nessas condições, nem sei dizer o que aconteceu com a noção de civilidade: se foi a tal ponto deturpada, se nunca chegou a existir de fato, ou se só nunca foi interessante colocá-la em prática.

Lembro-me de um acontecimento do final de 2008. Resolvemos fazer a confraternização de final de ano na área de recreação do prédio de nosso orientador. O churrasco foi caminhando de tal forma que ninguém sentiu falta de música; sem ela, conversávamos mais e melhor. Por volta das quatro da tarde, a churrasqueira ao lado começou a ser ocupada. Os playboys de lá deram uma boa olhada para os nerds de cá e devem ter achado que o clima do nosso grupo estava pesadíssimo. Devem ter pensado que qualquer música iria alegrar o ambiente, que seria quase utilidade pública quebrar o "silêncio". Não demorou cinco minutos para nos levantarmos e irmos embora. O nosso churrasco já estava no final mesmo... O que nos "expulsou" de lá? Diria que nem foi a música (Asa de Águia no último volume), mas a falta de educação e empatia dos brasileiríssimos vizinhos.

De lá para cá, já consegui perceber os efeitos da educação maligna que impera nessas paragens dezenas de vezes, de taxistas cariocas a professores universiotários. E é por isso que gostaria de fechar o texto com uma frase que não é minha, mas que adoraria ter dito: "o pior do Brasil é o brasileiro".


*: Paula Espósito é co-autora deste texto.

3 comentários:

Fábio Fortes disse...

Rafael,

seu texto destoa dos precedentes: o humor costumeiro cede seu espaço para a sobriedade pessimista. Leio suas linhas com o interesse daquele ao lado de quem, um dia, decidiu prestar o vestibular para Química o que, wse por um lado, abre oportunidade na pesquisa, por outro quase que obriga a sua investida na educação. Sou sensível às grandes dificuldades educacionais do nosso Brasil e, por elas mesmo, sou também motivado a fazer algo, sendo professor. Ah... Nunca me esquecerei daquela tarde, naquele dia vi qual era o seu talento*. Um grande abraço,

Paula Esposito disse...

rsrsrsrs Acho que seu texto transformou-se num dedão cutucador na praia do Fabinho, heim?

A má educação brasileira, tb apelidada de "cultura brasileira", extende seu comportamento inconveniente no tratamento equivocado do bem comum: depredação do patrimônio público e corrupção política.

Quem dera se o problema fosse só o Asa de Águia no talo...

Unknown disse...

Rafa, desculpa, mas achei engraçadíssima a passagem do churrasco. rsrsrs Desculpa por que vocês devem ter ficado putos, mas como já passou, dá pra rir, neh? rsrs.
Agora realmente me choca, a frase com a qual você fechou teu texto. No entanto, prefiro discuti-la com você pessoalmente, em ocasião oportuna.
Abraço.