quarta-feira, 24 de junho de 2009

Paraquedismo

"Caí de um avião sem paraquedas"
(James Bond, 007 contra o foguete da morte)

A 3500m de altitude, seus únicos companheiros de verdade eram o frio, o medo e um bom paraquedas. Chegou à porta do avião e olhou para fora: nuvens e um profundo céu azul. Jogou-se, partiu rumo ao inevitável. Não porque um cara chamado Isaac Newton estava certo ao dizer que "tudo que sobe, desce", mas porque a descida era o necessário. Não estava voltando; somente indo.

No início, só conseguia pensar na coragem que teve em dar o impulso inicial. As memórias relativas aos primeiros segundos do salto jamais lhe voltariam - dir-se-ia que nem vieram. Aos poucos, porém, foi dando conta da realidade da queda e da liberdade que ela significava. Podia fazer praticamente o que quisesse - menos voltar atrás. Surgiu-lhe a primeira questão: o que fazer com tamanha liberdade?

Lá de cima, fixou um alvo no solo e se movimentou de acordo a atingi-lo. Abriu o paraquedas. Continuou com uma movimentação calculada em busca do alvo. Agora, porém, conseguia distinguir a paisagem abaixo de si com muito mais clareza - que aumentava conforme descia. Surgiu-lhe a segunda questão: por que aquele alvo?

Pela necessidade de arrumar uma utilidade para a liberdade, definiu um alvo, uma meta. E agora se perguntava por que aquele alvo era melhor que qualquer outro... Analisando friamente, percebeu que, de fato, não havia nada que qualificasse o alvo escolhido como mais ou menos meritório que outro. Outra pessoa que tivesse saltado antes, depois, ou até ao mesmo tempo, poderia, sem perda de generalidade, escolher outro objetivo... Tudo parecia depender bastante das inclinações particulares desenvolvidas no tempo do gozo da liberdade. Tinha escolhido aquele alvo porque, por alguma razão que não tinha se preocupado em achar, lhe pareceu óbvio, plausível, factível e até fácil. Ou mais fácil, pois certo é que se deu conta da variedade de alvos que desde sempre lhe foi apresentada. O mundo inteiro funcionaria assim também, sempre seguindo o caminho que melhor se enquadrava em alguma lógica? É, parecia mesmo ser assim. Mas... E se essa lógica, de repente, mudasse? E se decidisse mudar o alvo para outro lugar? Concluiu que aquele alvo era, sim, melhor que qualquer outro. E o era porque tinha-o escolhido sem influências de outras pessoas. Se tivesse de mudar o alvo, talvez alguém lhe censurasse. Mas no fundo, tudo que lhe importava era sua própria opinião...

O solo se aproximava e era cada vez mais curto o tempo para tomar uma decisão. Se atingisse o alvo, poderia considerar seu objetivo cumprido? E se não o atingisse: haveria frustração? Subitamente, a resposta lhe veio: não, não haveria frustração. Porque, na vida, tudo tem o exato valor que lhe atribuímos. Nem mais, nem menos. Aterrisar aqui ou lá pouco importava. O salto como um todo tinha dado ao pouso seu devido tamanho: o de mero detalhe. "Conosci te stesso".

Um comentário:

m&m'f disse...

=)))
ahhhhh rafael!!!mudandode foco...de alvo...até mesmo na maneira de escrever.
é tão bom ver q seus textos evoluem...que isso seja sempre uma constante p.g. =P
"no fim das contas, sempre foi entre nós e Deus",já dizia uma oração de madre teresa!
td tem o tamanho que pintamos ter!
fica c Deus!