O ser humano se difere dos demais animais por sua capacidade de racionalizar coisas. E isso é coisa que todo ser humano sabe. O ser humano também tem uma certa necessidade - mais aflorada em alguns espécimes, é verdade - de tentar entender o meio que o cerca. Sendo naturalmente um animal social - e aqui me eximo de mais críticas a uma sociedade tão selvagem e burlesca como a brasileira -, alguns homens se preocupam em entender a sociedade e se dedicam às chamadas ciências humanas. Enquanto outros homens se preocupam em entender a Natureza, dedicando-se às ciências naturais. E dentro do campo de estudo das ciências naturais, temos a Física. Essa ciência é, talvez, o grande ícone da capacidade de racionalização humana. É justamente a ciência que tenta descrever a Natureza - porque, no fundo, entender a Natureza não é papel de nenhuma ciência, mas das religiões...
E qual foi a maneira que os físicos encontraram para descrever a Natureza? Ou melhor: qual foi a linguagem que eles usaram para descrevê-la? Sim, pois uma descrição dessa magnitude precisa ser feita em uma linguagem objetiva e universal, aceita de forma absoluta e incontestável. E aí chegamos a um ponto crucial: nenhum texto pode ser considerado objetivo a esse nível. Incutido nele há, necessariamente, a figura do autor, o que dá um caráter pessoal muito pouco interessante para uma descrição que precisa ser absoluta e incontestável. É preciso, portanto, definir padrões. É preciso inventar tal tipo de linguagem. E se dissermos que uma pedrinha colocada junta de outra são duas pedrinhas e atirarmos uma pedrinha ao chão para cada ovelha que entrar no cercado, estaremos criando uma forma absoluta e incontestável de contar ovelhas, de "medi-las". Assim se criou a Matemática. Deus não escreveu o universo em Matemática, mas essa foi pura e simplesmente a forma que nós, seres humanos, inventamos para descrever a Natureza.
O problema é que Matemática consiste em números - números com significados. E um número é sempre uma medida de alguma coisa, de alguma grandeza. No caso do cercado de ovelhas, duas pedras significam duas ovelhas dentro do cercado. Mas e a Natureza? Como medir a Natureza? Como transformar a Natureza em números? Aí entramos no campo das invenções das grandezas. Alguém defina espaço. É, aquela história de três dimensões, x, y e z, sistema cartesiano... Por que um metro vale exatamente um metro? Ora, poderia se arbitrar que o metro teria um outro tamanho qualquer e tudo estaria racionalizado da mesma maneira... Importante é ter uma grandeza e sua unidade de medida. Mas convenhamos que nossa descrição da Natureza seria um tanto incompleta se a gente fosse limitado a ficar com uma régua na mão medindo as dimensões de tudo o que os olhos alcançam. É preciso ir além. Afinal, as coisas não são simplesmente, mas elas também se movem. E quando o fazem, seguem leis da Natureza. Afinal, tudo tende a cair em direção ao chão... Isso não pode ser coincidência! Há um conjunto de tendências muito forte aí que nos permite enunciar certas leis naturais. No entanto, conforme dito, as coisas se movem, mudam de lugar e até se desgastam. Mesmo que se deixe uma rodela de tomate dentro de um recipiente de vidro completamente tampado, ela vai se deteriorar. Pode levar mais ou menos dias para isso acontecer, mas vai acontecer. E aí temos uma outra grandeza natural indefinível: o tempo. Que é justamente onde eu queria chegar...
Einstein começou a elaborar a Teoria da Relatividade quando percebeu que havia alguma coisa estranha com o tempo. A velocidade (razão do espaço percorrido por tempo gasto) da luz não dependia do referencial, ao que todas as experiências indicavam. No entanto, a verdade é uma só. Se eu estou num trem em movimento e, bem no instante em que estou passando pelo meio de uma plataforma, luzes nas duas extremidades da plataforma se acendem ao mesmo tempo, pelo simples fato do trem estar em movimento eu direi que as luzes de um dos lados da plataforma se acenderam primeiro. Ao contrário, uma pessoa que estivesse parada no meio da plataforma e assim ficasse depois que as luzes se acenderam, diria que os dois lados se acenderam ao mesmo tempo... Mas a verdade é uma só. Eu e o outro observador fornecemos relatos diferentes para o mesmo evento porque o vimos de referenciais diferentes. E seria possível ficar horas citando exemplos em que o referencial faz diferença, tornando as grandezas mais fundamentais da Física - espaço e tempo - incomodamente relativas. Mas não vou fazer isso. Basta dizer que o tempo é a coisa mais irritante que o homem já inventou!
A característica mais marcante do tempo é que ele sempre flui no mesmo sentido. E como estamos imersos nele - pregados nele feito pregos num pedaço de madeira -, vamos junto para onde ele quiser nos levar. E como ele vai sempre pra frente, vamos sempre para o futuro. O tempo pode até passar mais rapidamente ou mais lentamente para nós dependendo de nossa velocidade, mas ainda assim sempre vamos para o futuro... E assim, viver nosso tempo aqui consiste, basicamente, numa jornada que vai acabar em um momento futuro.
Decidir o que fazer com o tempo que nos é concedido é a questão fundamental da vida de todo ser humano. E essas escolhas nos fazem quem somos. Tais escolhas nos conduzem a experiências, e tais experiências a aprendizados. E tudo isso leva tempo.
Diz-se que uma pessoa madura é aquela que está "preparada" para a vida. Talvez a primeira contestação a se fazer aí é que a vida oferece um número tão absurdamente grande de possíveis eventos passíveis de acontecer a qualquer tempo que ninguém tem, na prática, tempo o suficiente para se preparar para tudo que a vida pode lhe aprontar... Mas quando a pessoa reúne uma gama de experiências significativas - e nisso o tempo gasto em vivenciá-las é de importância bem pequena -, diz-se que a pessoa é madura. Não importa se você ficou dez anos ou dez minutos fazendo determinada coisa: tudo o que importa para a maturidade é o aprendizado que aquilo lhe proporcionou. E nesse sentido, tentar novas experiências é sempre interessante. A ironia, é claro, é que todo mundo têm a maior admiração pelas pessoas maduras. Todos querem ser pessoas maduras. E ninguém vê que se realmente somos dignos dessa metáfora alimentícia, a posição mais triste é justamente aquela a qual todos ambicionam: a de fruto no chão, podre de tão maduro. Quanto custa ao ser humano perceber que a graça não é bater a mão no peito e dizer "eu sou maduro", mas justamente o contrário: "eu sou aprendiz"... Dizer que fulano é "maduro" é, nesse sentido, uma tremenda falta de maturidade. Dizer que fulano é "mais maduro" (ou "menos") que beltrano então, nem se fala... Se a dita maturidade tem mais a ver com o número e com a qualidade das experiências que um indivíduo viveu que com a quantidade de velas em seu último bolo de aniversário, então querer medir maturidade é algo completamente impossível.
Sou maduro não. Só quero estar "no ponto" para o que desejo fazer com meu tempo: como Gonzaguinha, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...
E qual foi a maneira que os físicos encontraram para descrever a Natureza? Ou melhor: qual foi a linguagem que eles usaram para descrevê-la? Sim, pois uma descrição dessa magnitude precisa ser feita em uma linguagem objetiva e universal, aceita de forma absoluta e incontestável. E aí chegamos a um ponto crucial: nenhum texto pode ser considerado objetivo a esse nível. Incutido nele há, necessariamente, a figura do autor, o que dá um caráter pessoal muito pouco interessante para uma descrição que precisa ser absoluta e incontestável. É preciso, portanto, definir padrões. É preciso inventar tal tipo de linguagem. E se dissermos que uma pedrinha colocada junta de outra são duas pedrinhas e atirarmos uma pedrinha ao chão para cada ovelha que entrar no cercado, estaremos criando uma forma absoluta e incontestável de contar ovelhas, de "medi-las". Assim se criou a Matemática. Deus não escreveu o universo em Matemática, mas essa foi pura e simplesmente a forma que nós, seres humanos, inventamos para descrever a Natureza.
O problema é que Matemática consiste em números - números com significados. E um número é sempre uma medida de alguma coisa, de alguma grandeza. No caso do cercado de ovelhas, duas pedras significam duas ovelhas dentro do cercado. Mas e a Natureza? Como medir a Natureza? Como transformar a Natureza em números? Aí entramos no campo das invenções das grandezas. Alguém defina espaço. É, aquela história de três dimensões, x, y e z, sistema cartesiano... Por que um metro vale exatamente um metro? Ora, poderia se arbitrar que o metro teria um outro tamanho qualquer e tudo estaria racionalizado da mesma maneira... Importante é ter uma grandeza e sua unidade de medida. Mas convenhamos que nossa descrição da Natureza seria um tanto incompleta se a gente fosse limitado a ficar com uma régua na mão medindo as dimensões de tudo o que os olhos alcançam. É preciso ir além. Afinal, as coisas não são simplesmente, mas elas também se movem. E quando o fazem, seguem leis da Natureza. Afinal, tudo tende a cair em direção ao chão... Isso não pode ser coincidência! Há um conjunto de tendências muito forte aí que nos permite enunciar certas leis naturais. No entanto, conforme dito, as coisas se movem, mudam de lugar e até se desgastam. Mesmo que se deixe uma rodela de tomate dentro de um recipiente de vidro completamente tampado, ela vai se deteriorar. Pode levar mais ou menos dias para isso acontecer, mas vai acontecer. E aí temos uma outra grandeza natural indefinível: o tempo. Que é justamente onde eu queria chegar...
Einstein começou a elaborar a Teoria da Relatividade quando percebeu que havia alguma coisa estranha com o tempo. A velocidade (razão do espaço percorrido por tempo gasto) da luz não dependia do referencial, ao que todas as experiências indicavam. No entanto, a verdade é uma só. Se eu estou num trem em movimento e, bem no instante em que estou passando pelo meio de uma plataforma, luzes nas duas extremidades da plataforma se acendem ao mesmo tempo, pelo simples fato do trem estar em movimento eu direi que as luzes de um dos lados da plataforma se acenderam primeiro. Ao contrário, uma pessoa que estivesse parada no meio da plataforma e assim ficasse depois que as luzes se acenderam, diria que os dois lados se acenderam ao mesmo tempo... Mas a verdade é uma só. Eu e o outro observador fornecemos relatos diferentes para o mesmo evento porque o vimos de referenciais diferentes. E seria possível ficar horas citando exemplos em que o referencial faz diferença, tornando as grandezas mais fundamentais da Física - espaço e tempo - incomodamente relativas. Mas não vou fazer isso. Basta dizer que o tempo é a coisa mais irritante que o homem já inventou!
A característica mais marcante do tempo é que ele sempre flui no mesmo sentido. E como estamos imersos nele - pregados nele feito pregos num pedaço de madeira -, vamos junto para onde ele quiser nos levar. E como ele vai sempre pra frente, vamos sempre para o futuro. O tempo pode até passar mais rapidamente ou mais lentamente para nós dependendo de nossa velocidade, mas ainda assim sempre vamos para o futuro... E assim, viver nosso tempo aqui consiste, basicamente, numa jornada que vai acabar em um momento futuro.
Decidir o que fazer com o tempo que nos é concedido é a questão fundamental da vida de todo ser humano. E essas escolhas nos fazem quem somos. Tais escolhas nos conduzem a experiências, e tais experiências a aprendizados. E tudo isso leva tempo.
Diz-se que uma pessoa madura é aquela que está "preparada" para a vida. Talvez a primeira contestação a se fazer aí é que a vida oferece um número tão absurdamente grande de possíveis eventos passíveis de acontecer a qualquer tempo que ninguém tem, na prática, tempo o suficiente para se preparar para tudo que a vida pode lhe aprontar... Mas quando a pessoa reúne uma gama de experiências significativas - e nisso o tempo gasto em vivenciá-las é de importância bem pequena -, diz-se que a pessoa é madura. Não importa se você ficou dez anos ou dez minutos fazendo determinada coisa: tudo o que importa para a maturidade é o aprendizado que aquilo lhe proporcionou. E nesse sentido, tentar novas experiências é sempre interessante. A ironia, é claro, é que todo mundo têm a maior admiração pelas pessoas maduras. Todos querem ser pessoas maduras. E ninguém vê que se realmente somos dignos dessa metáfora alimentícia, a posição mais triste é justamente aquela a qual todos ambicionam: a de fruto no chão, podre de tão maduro. Quanto custa ao ser humano perceber que a graça não é bater a mão no peito e dizer "eu sou maduro", mas justamente o contrário: "eu sou aprendiz"... Dizer que fulano é "maduro" é, nesse sentido, uma tremenda falta de maturidade. Dizer que fulano é "mais maduro" (ou "menos") que beltrano então, nem se fala... Se a dita maturidade tem mais a ver com o número e com a qualidade das experiências que um indivíduo viveu que com a quantidade de velas em seu último bolo de aniversário, então querer medir maturidade é algo completamente impossível.
Sou maduro não. Só quero estar "no ponto" para o que desejo fazer com meu tempo: como Gonzaguinha, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...
Um comentário:
Antes de mais nada, magnífica sua explanação sobre as ferramentas de medida advindas das ciências naturais. Me fez lembrar Carl Sagan. Até peguei minha prancha de surf para deslizar buracos de minhoca adentro... Em relação a sua metáfora alimentícia, nem tenho adjetivos para expressar tamanha sensatez. Escassa sensatez que provoca disparates como julgar um determinado problema pessoal maior ou menor, mais ou menos solúvel do que outro e que culmina na herética frase citada por você: “...fulano é "mais maduro" (ou "menos") que beltrano...” Lamentável.
Semana passada acorreu algo do tipo. Algo gozado. Eu estava no clube lendo Harry Potter quando chegou uma amiga da mamãe e arreganhou os olhos para o livro. Eu a encarei com a cara meio feia e impaciente já prevendo o naipe do comentário: “Achei que você fosse cult...” Cara, por mais que nem saiba direito qual seja o significado desta palavra, a encaro como uma ofensa. Pena que algumas pessoas não vejam como é enriquecedor lhe dar com diversidades. Aprender!
Bom, que sejamos bichos de goiaba ciganos. Pularemos de uma fruta podre para outras e outras e muitas... Grande abraço, rapaz!!
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