O rapaz acordou tarde. Quando o mundo entrou em seu foco, pensou que tinha todo o direito de acordar tarde. Afinal, tinha feito muita coisa na semana que se passara. Tanto que já nem lembrava do que fizera, mas estava cansado.
O café foi rápido. A manhã, de faxina, foi lenta. O tempo, implacável, insistia em lhe desobedecer. Enfim, a sesta do almoço. O momento ideal para meditar sobre a vida.
Deitado em sua cama, viajou por campos verdes longínquos e castelos. Sonhou com belas princesas em diáfanos vestidos ofertadas-lhe por merecimento. Era o que sonhava, o que queria. E então, adormeceu profundamente. As princesas e os castelos deram lugar a muros de concreto e pessoas conhecidas. Os campos verdes se transformaram em asfalto. Estava de volta ao mundo real.
Sua mãe vinha ao seu encontro. O chinelo nas mãos, desordeiro que nunca fora. Seu irmão menor, atrás dela, a rir-se. Traidor, mentiroso. Como as crianças são cruéis, pensou. Nunca tivera infância. A vida sempre lhe fora um parafuso a mais.
Com o corpo dolorido da surra, jurou vingança. Disse a si mesmo que o mundo haveria de se curvar a seus pés. Júpiter estava para ser destronado. O plano estava arquitetado e não havia como falhar. Agiria sozinho, não confiava em ninguém. No fim, teria tudo. Seria tudo.
Novamente acordado, não guardou nenhuma lembrança do sonho. Mas certo era que o mesmo permanecia em sua mente, pois que seus pensamentos ainda eram os mesmos. O barulho insistente de uma broca furando o concreto lhe colocou de volta ao chão. Ainda era humano. A impertinente broca mais uma vez se anunciou, reclamando do trabalho a que era obrigada. E ele queria satisfações. Foi encontrar a escandalosa na mão empoeirada de seu pai. Ainda era humano, embora trinta anos mais velho.
- Pode buscar o pão? - pediu-lhe o pai.
Respondeu na afirmativa. Estava novo em folha. Pegou o dinheiro e saiu.
- Dez pães, por favor. - pediu à moça da padaria.
Em seguida, com o pacote nas mãos, tomou o caminho de casa. E então, um pensamento lhe ocorreu. Estava parado em frente à locadora. Enfim, por que não? Afinal, era seu direito. Entrou. Saiu dez minutos depois, levando um musical na outra mão.
Em casa, à noite, todos tomavam café com pão assistindo ao filme na sala escura. Enfim, tinha vencido. Não havia decorrido nem um quarto do filme e todos, um a um, alegando cansaço, foram se retirando para seus aposentos. Sim, tinha vencido.
Mas a sala escura lhe reservava uma surpresa. Desviando os olhos da tela, deteve-se a olhar seus pés. E pensou no quanto tinha vivido até então. Tinha vencido. Finalmente era imperador. Mas sem povo, percebeu, não tinha império.
Era a queda de sua Roma.
O café foi rápido. A manhã, de faxina, foi lenta. O tempo, implacável, insistia em lhe desobedecer. Enfim, a sesta do almoço. O momento ideal para meditar sobre a vida.
Deitado em sua cama, viajou por campos verdes longínquos e castelos. Sonhou com belas princesas em diáfanos vestidos ofertadas-lhe por merecimento. Era o que sonhava, o que queria. E então, adormeceu profundamente. As princesas e os castelos deram lugar a muros de concreto e pessoas conhecidas. Os campos verdes se transformaram em asfalto. Estava de volta ao mundo real.
Sua mãe vinha ao seu encontro. O chinelo nas mãos, desordeiro que nunca fora. Seu irmão menor, atrás dela, a rir-se. Traidor, mentiroso. Como as crianças são cruéis, pensou. Nunca tivera infância. A vida sempre lhe fora um parafuso a mais.
Com o corpo dolorido da surra, jurou vingança. Disse a si mesmo que o mundo haveria de se curvar a seus pés. Júpiter estava para ser destronado. O plano estava arquitetado e não havia como falhar. Agiria sozinho, não confiava em ninguém. No fim, teria tudo. Seria tudo.
Novamente acordado, não guardou nenhuma lembrança do sonho. Mas certo era que o mesmo permanecia em sua mente, pois que seus pensamentos ainda eram os mesmos. O barulho insistente de uma broca furando o concreto lhe colocou de volta ao chão. Ainda era humano. A impertinente broca mais uma vez se anunciou, reclamando do trabalho a que era obrigada. E ele queria satisfações. Foi encontrar a escandalosa na mão empoeirada de seu pai. Ainda era humano, embora trinta anos mais velho.
- Pode buscar o pão? - pediu-lhe o pai.
Respondeu na afirmativa. Estava novo em folha. Pegou o dinheiro e saiu.
- Dez pães, por favor. - pediu à moça da padaria.
Em seguida, com o pacote nas mãos, tomou o caminho de casa. E então, um pensamento lhe ocorreu. Estava parado em frente à locadora. Enfim, por que não? Afinal, era seu direito. Entrou. Saiu dez minutos depois, levando um musical na outra mão.
Em casa, à noite, todos tomavam café com pão assistindo ao filme na sala escura. Enfim, tinha vencido. Não havia decorrido nem um quarto do filme e todos, um a um, alegando cansaço, foram se retirando para seus aposentos. Sim, tinha vencido.
Mas a sala escura lhe reservava uma surpresa. Desviando os olhos da tela, deteve-se a olhar seus pés. E pensou no quanto tinha vivido até então. Tinha vencido. Finalmente era imperador. Mas sem povo, percebeu, não tinha império.
Era a queda de sua Roma.
Um comentário:
Desde que começamos a trocar textos pelo msn, lá pelos idos de 2005, sempre fico em dúvida sobre o pano de fundo deles. Se são metafóricos, ficção... Ambos... Porém confesso que me sugerem fantásticas deduções de entrelinhas...
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